terça-feira, 1 de março de 2016

PAULINA CHIZIANE E AMILTON NEVES ABORDAM O CURANDEIRISMO EM MOÇAMBIQUE

O Centro Cultural Franco-Moçambicano é um espaço em que, neste momento, se encontra a exposição fotográfica intitulada Balada dos Deuses. A exposição aqui referida é da autoria do artista plástico Amilton Neves, que mostra uma realidade que é mais visível no meio rural. É nesse espaço em que, de acordo com Paulina Chiziane, o curandeiro exerce um papel fundamental na manutenção da saúde das populações. Por curar as doenças das populações do meio rural, em condições precárias, o curandeiro merece a atenção da sociedade. Mais ainda, Chiziane defende que o curandeiro faz parte da cultura moçambicana e não deve ser marginalizado.
 
A autora de “Ngoma Yethu” afirma que o curandeiro é muitas vezes identificado e julgado com base nos preconceitos criados durante a colonização e reproduzidos pela religião cristã. O papel do curandeiro deve ser compreendido pela sociedade em geral. Os cientistas da medicina, da biologia, da psicologia, da química, da teologia, dos direitos humanos, da teologia etc. (eu acrescentaria os da sociologia) devem dar o seu contributo para que o papel dos curandeiros seja reconhecido e para que estes beneficiem duma inclusão no mundo moderno. Os curandeiros devem também ser abrangidos pelo desenvolvimento tecnológico e moral, “mas sem destruir a cultura africana.”

Na minha opinião, a realidade do curandeirismo deve ser vista não somente como algo que caracteriza o meio rural. Embora em escala relativamente menor, esta realidade manifesta-se, nos nossos dias, também no meio urbano. Não poucas vezes encontramos na cidade de Maputo painéis publicitários, artesanalmente produzidos, apresentando os serviços prestados pelos curandeiros. E se eles cá aparecem e aumentam em número a cada dia, sou tentado a considerar que existem no meio urbano beneficiários dos referidos serviços. Porém, os cidadãos beneficiam-se dos serviços dos curandeiros de forma clandestina.

Os cidadãos beneficiam dos serviços dos curandeiros de forma clandestina. Essa clandestinidade é verificada pelo facto dos cidadãos raramente se identificarem como aqueles que trataram ou curaram qualquer que seja a doença junto dum curandeiro. Quando se vai ao curandeiro não se despede. O período nocturno é o privilegiado para as consultas e/ou tratamentos. Quando as consultas/tratamentos ocorrem durante o dia, mecanismos de protecção da imagem do paciente devem ser accionadas. Mas, anúncios são até publicados no facebook (exagerando um pouco) quando alguém for fazer uma consulta no Hospital Privado de Maputo, na Clínica da Sommerschield, na Clínica 222, entre outras. Há cidadãos que privilegiam um certo modelo de facto de banho quando forem à piscina. Geralmente, preferem aquele facto de banho que protege as tatuagens feitas por um médico tradicional para a cura, com sucesso, duma doença. O bonito é exibir uma cicatriz provocada por uma operação feita na clínica privada.
 
Quanto ao uso das tecnologias, embora eu não tenha a certeza de que os curandeiros sejam proprietários de computadores, impressoras e outras tecnologias, tenho notado que estes têm acesso às mesmas. Há panfleto os produzidos com base num computador e impressos, que aparecem afixados nas árvores e muros da cidade de Maputo (Acho que já viram “Penis Elargement” ou “Penis Alargamento”, não?). Não vou também excluir os pequenos folhetos impressos e distribuídos aos cidadãos nas ruas de Maputo assim como aos automobilistas parados nos semáforos.

O que ainda não vi, é um curandeiro que faça consultas e/ou alguns tratamentos usando as redes sociais (facebook, tweeter, whatsapp etc.). Mas, nunca é tarde para vermos isso acontecer.

Marcos SINATE

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