sábado, 30 de janeiro de 2016

UKANYI NOS MERCADOS DAS CIDADES DE MAPUTO E MATOLA



A época do canhú já chegou. O ukanyi está a ser consumido em todo o lado em Maputo, desde o campo até à cidade. Diz-se que essa bebida é famosa por ser um grande afrodisíaco. Onde ela estiver a ser consumida, se ocorrer adultério, não existe julgamento pelo acto cometido. Há mesmo um ditado que diz: “Os problemas (de adultério) provocados pelo consumo do ukanyi não se podem resolver”.

Normalmente, existia uma cerimónia de abertura da época do ukanyi em certos distritos das províncias de Maputo, Gaza e um pouco em Inhambane. Essa cerimónia contava com a presença de régulos e/ou outros representantes da autoridade tradicional. A bebida era produzida, em seguida toda a vizinhança era solicitada a beber a precioso ukanyi, bebida que só aparece nos meses de Janeiro e Fevereiro de cada ano. Porém, com certa raridade esta aparece também no mês de Março.

Afirma-se que o ukanyi é uma bebida cuja venda é socioculturalmente proibida. Mas, parece-me que este facto verifica-se de forma cada vez mais rara nos nossos dias. Há elementos que me levam a crer que após a cerimónia de abertura da época do ukanyi, cada pessoa carrega o seu bidon e faz dele o que quiser. Alguns bidons chegam ao meio urbano de Maputo onde a bebida é consumida em troca de valores monetários. É comum nessa época encontrar “mamanas” com bidons de 20 a 25 litros a vender ukanyi na Baixa da cidade de Maputo e na cidade da Matola.
 
Servido em garrafas plásticas de meio litro, um litro e meio a dois litros, o ukanyi é vendido a 20, 50 e 75Mt cada garrafa. Há cidadãos que compram essa bebida e consomem-na no local e outros que a levam para casa. Os que a levam para casa, consideram que esta é melhor quando servida gelada e ainda que precisam de ter um pouco de whisky ao lado para “txantxular” (desempanturrar).

Mostra-se aqui a ocorrência duma nova realidade. O ukanyi é comercializado nas zonas onde é produzido. Há indivíduos que vão às zonas de produção “gwevar” (comprar a grosso) para revender no meio urbano. Nesse meio, há outros tipos de consumidor do mesmo. Ainda não vimos, mas acreditamos que dentro de alguns anos (se é que ainda não acontece), teremos a matéria-prima a ser transportada e processada no meio urbano. Assim, a abertura da época do ukanyi será feita sem o régulo ou outros representantes da autoridade tradicional, pois esses muito raramente aparecem a exercer o seu poder no meio urbano.

Mas, essas mudanças acontecem com quase todos os produtos socioculturais. E, considera-se algumas vezes, que as referidas mudanças têm origem no desenvolvimento das cidades. Mas, resta saber de que maneira; que novos significados ganhou o ukanyi? Será que perdeu alguns dos seus significados iniciais? Quais são os significados que perderam? Etc.


Marcos SINATE

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