
A autora de “Ngoma
Yethu” afirma que o curandeiro é muitas vezes identificado e julgado com
base nos preconceitos criados durante a colonização e reproduzidos pela
religião cristã. O papel do curandeiro deve ser compreendido pela
sociedade em geral. Os cientistas da medicina, da biologia, da
psicologia, da química, da teologia, dos direitos humanos, da teologia
etc. (eu acrescentaria os da sociologia) devem dar o seu contributo para
que o papel dos curandeiros seja reconhecido e para que estes
beneficiem duma inclusão no mundo moderno. Os curandeiros devem também
ser abrangidos pelo desenvolvimento tecnológico e moral, “mas sem
destruir a cultura africana.”
Na minha opinião, a realidade do
curandeirismo deve ser vista não somente como algo que caracteriza o
meio rural. Embora em escala relativamente menor, esta realidade
manifesta-se, nos nossos dias, também no meio urbano. Não poucas vezes
encontramos na cidade de Maputo painéis publicitários, artesanalmente
produzidos, apresentando os serviços prestados pelos curandeiros. E se
eles cá aparecem e aumentam em número a cada dia, sou tentado a
considerar que existem no meio urbano beneficiários dos referidos
serviços. Porém, os cidadãos beneficiam-se dos serviços dos curandeiros
de forma clandestina.
Os cidadãos beneficiam dos serviços dos
curandeiros de forma clandestina. Essa clandestinidade é verificada pelo
facto dos cidadãos raramente se identificarem como aqueles que trataram
ou curaram qualquer que seja a doença junto dum curandeiro. Quando se
vai ao curandeiro não se despede. O período nocturno é o privilegiado
para as consultas e/ou tratamentos. Quando as consultas/tratamentos
ocorrem durante o dia, mecanismos de protecção da imagem do paciente
devem ser accionadas. Mas, anúncios são até publicados no facebook
(exagerando um pouco) quando alguém for fazer uma consulta no Hospital
Privado de Maputo, na Clínica da Sommerschield, na Clínica 222, entre
outras. Há cidadãos que privilegiam um certo modelo de facto de banho
quando forem à piscina. Geralmente, preferem aquele facto de banho que
protege as tatuagens feitas por um médico tradicional para a cura, com
sucesso, duma doença. O bonito é exibir uma cicatriz provocada por uma
operação feita na clínica privada.
Quanto ao uso das tecnologias,
embora eu não tenha a certeza de que os curandeiros sejam proprietários
de computadores, impressoras e outras tecnologias, tenho notado que
estes têm acesso às mesmas. Há panfleto os produzidos com base num
computador e impressos, que aparecem afixados nas árvores e muros da
cidade de Maputo (Acho que já viram “Penis Elargement” ou “Penis
Alargamento”, não?). Não vou também excluir os pequenos folhetos
impressos e distribuídos aos cidadãos nas ruas de Maputo assim como aos
automobilistas parados nos semáforos.
O que ainda não vi, é um
curandeiro que faça consultas e/ou alguns tratamentos usando as redes
sociais (facebook, tweeter, whatsapp etc.). Mas, nunca é tarde para
vermos isso acontecer.
Marcos SINATE
Sem comentários:
Enviar um comentário