Nesta cidade devemos andar rastejando. Se andarmos a galopes como o fazemos
habitualmente, ficaremos sem as nossas pernas. Tive a vontade de escrever sobre
este assunto quando vi uma criança turista quase a cair numa das covas que se
encontra em frente da catedral de Maputo. A criança estava a tentar encontrar
uma posição adequada para tirar uma fotografia da catedral quando o seu
acompanhante gritou para que ela tomasse cuidado.
Há covas semelhantes àquela, visíveis em quase todas as ruas da nossa bela cidade. Mas, não sei se são suficientemente visíveis à noite para serem evitadas. Não me estou a referir às covas provocadas pelas chuvas ou pelo desgaste das estradas provocado pelos automóveis. Refiro-me às covas racionalmente construídas com um determinado objectivo, mas que parecem ter ganho outros significados e já têm outras funções.
Na minha cidade, essas covas são usadas como latrinas, banheiras, poços de
água para a lavagem de carros, latas de lixo e armas brancas. Como armas
brancas, diria eu em jeito de brincadeira, devem estar a ser usadas pelo Estado moçambicano para quebrar as
pernas dos manifestantes. Mas, não só os manifestantes circulam por esses
passeios, há turistas que de nenhum modo podem ser vistos como manifestantes. Gosto de brincar. Isso faz-me muito bem! E,
como latrinas, banheiras, poços de água para a lavagem de carros, latas de lixo
são, não raramente, as utilidades que os cidadãos atribuem a essas covas. Mas,
apesar dessas funcionalidades, entendamos que essas covas são uma verdadeira
ameaça à saúde física e mental de todos os que circulam pela cidade.
O medo de cair numa dessas covas, faz com que os cidadãos ocupem a sua mente
com mais um elemento ao qual se devem adaptar para circular quase
tranquilamente em Maputo. Alguns cidadãos já se adaptaram ao lixo e convivem
com ele de forma quase que natural e reproduzem-no. Mas, não é o lixo que aqui
nos interessa. São as covas que não devem ser tapadas com terra batida, mas com
a aplicação dos conhecimentos científicos e aparentemente racionais que foram usados
para a sua construção.
Entendendo que do mesmo modo que se afirma haver falta de meios para a
resolução dos vários problemas de saneamento na cidade de Maputo, a questão
relacionada com as covas possa ser vítima das mesmas razões. Assim, nós, os cidadãos
de Maputo, teríamos que tomar medidas que nos protejam da vergonha e que possamos
circular tranquilamente nesta cidade, sem temer danos físicos nos nossos
organismos. Tentemos nos alertar todos para tomarmos cuidado. Poderíamos, por
exemplo, colocar sinais de perigo em toda a cidade. Na entrada da cidade: Bem-vindo
à cidade de Maputo, cuidem-se das covas nos passeios! Perdoem-nos, ainda não
temos meios para tapá-las.
Uma triste realidade de uma cidade que já foi um centro de comentários lindos
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