Fiquei muito
curioso quando vi aquela foto da nossa escritora moçambicana Paulina Chiziane
na revista moçambicana Lua. Tratava-se afinal de contas duma entrevista em que
ela apresentava o seu novo livro que seria e foi lançado em 2012. Fiquei muito
satisfeito, pois gosto da cultura moçambicana, dos seus fazedores e do seu
constante desenvolvimento e expansão a nível nacional e internacional.
Revista Lua número 8 III de 20 de Janeiro de 2012 |
Durante a
leitura da entrevista, deparei-me com uma passagem na qual Paulina diz: ‘‘Os
antropólogos fiam no que foi dito por outros. Eu busco algumas verdades nas
raízes da minha terra.’’ Tive que me lembrar de alguns conhecimentos sobre
a antropologia e os seus métodos de investigação e constatei que um deles é o
da observação participante. Este método de investigação consiste na fixação do
investigador num lugar durante um tempo suficiente para a observação e recolha
dos dados necessários para o estudo que pretende realizar. Realmente, não é
possível observar tudo ao mesmo tempo. O que ele não conseguir observar durante
aquele período, poderá ele fazê-lo nas próximas investigações se necessário ou
um outro cientista poderá fazê-lo. Os dados colhidos são posteriormente
sistematizados e analisados cientificamente.
Revista Lua número 8 III de 20 de Janeiro de 2012 |
Durante a sua
entrevista, apresentada na revista Lua, Chiziane afirma ter conversado com um
curandeiro da província de Niassa e que este último tinha curado o seu irmão.
Este facto mostra que a escritora ouviu alguma coisa de alguém (ouviu o que os
outros dizem ou o que o outro disse). A escritora fiou também no que este
curandeiro disse sobre a história de Moçambique (mais informal); Fiou no que o
curandeiro disse sobre a função e relação entre ‘‘todas as plantas’’ e
os seres humanos. Este facto leva-me a não compreender a diferença entre o que
esta escritora faz e fez como método de recolha de informação e o exercício que
é feito pelos antropólogos para recolha de dados. A diferença que se nota é que
os antropólogos categorizam a informação colhida e analisam-na com vista a
produção do conhecimento científico antropológico e Chiziane produz um
conhecimento literário (cultural).
Revista Lua número 8 III de 20 de Janeiro de 2012 |
Mais questões
podem ser levantadas em relação à afirmação de que ‘‘Os curandeiros são os
maiores depositários da cultura em Moçambique’’. A que curandeiros se
refere, se nos encontramos num contexto em que há vários tipos de curandeiro?
De que tipo de cultura está a falar visto que este conceito envolve uma
diversidade de elementos característicos humanos (dança, canto, instrumentos
musicais, gastronomia, teatro, cinema, literatura oral ou escrita, etc?
Revista Lua número 8 III de 20 de Janeiro de 2012 |
Não pretendo
desacreditar a nossa escritora, apenas buscar esclarecimentos para algumas
imprecisões sobre as suas afirmações em relação a realidade moçambicana que
apresenta. Reconheço que Chiziane apresenta um raciocínio muito original sobre
a nossa realidade e que essas afirmações não foram de modo nenhum irracionais.
Sem comentários:
Enviar um comentário