terça-feira, 27 de outubro de 2015

Em que cidade se encontra esse painel publicitário? Será uma publicidade?



É comum na linguagem popular ouvir expressões como ‘‘Eu vivo a dez minutos da minha escola.’’ Algo que parece não fazer sentido se analisarmos a frase do ponto de vista daqueles que consideram que a frase (mais) correcta seria ‘‘Eu vivo a dez (metros/quilómetros) da escola.’’ Para estes a distância seria medida em metros, quilómetros, hectares, etc. que são medidas que exprimem o tamanho de alguma coisa ou a distância a que alguma coisa ou algum lugar se encontra em relação a outra coisa ou outro lugar.


Numa sociedade em que existe um sistema de transportes eficaz e eficiente, uma rede de estradas em condições adequadas (sem buracos) e sem congestionamento, faria algum sentido a pessoa exprimir a distância em minutos (para dizer se é longe ou perto do local de referência). Mas ocorre ainda a possibilidade de expressar a distância com base no tempo especificando que meio de transporte a pessoa vai usar para chegar ao local ou ainda os momentos do dia em que é possível percorrer a distância referida no tempo referido. Caso contrário, medir a distância com base no tempo seria algo um pouco enganoso como tem sido o caso em algumas publicidades. Há publicidades enganosas! (Provocando as agências de publicidade, não? Kikikikikikiki)

Na Avenida 25 de Setembro, na cidade de Maputo (Moçambique) encontra-se neste momento um painel publicitário com a seguinte informação ‘‘Já à venda! Moradias isoladas […] Moradias T3 e T4 a 15 minutos da cidade.” Essa publicidade é hiper enganosa, não? Quem disser que não, terá as suas razões e considero o mesmo para quem disser que sim? Mas é interessante perceber que nos aparece neste painel algo muito curioso e que suscita uma pequena conversa! Várias questões podem ser colocadas a partir desta informação. Vamos a seguir colocar algumas que tentaremos, em seguida, responder sob a forma duma análise não exaustiva.

A que cidade se refere nessa publicidade? Supondo que as referidas moradias se encontram na cidade de Maputo, questionamos em que ponto (bairro) da cidade podemos encontrar este local? Se as moradias estão isoladas, elas estão nesta situação em relação a quê? Caso alguém queira obter alguma informação sobre as referidas moradias onde é que a pode obter e de que maneira? Outras perguntas podem ser colocadas e analisadas por quem se interessar pela compreensão dos discursos que ‘‘sobrevoam e pairam’’ na nossa cidade.

A primeira pergunta pode ser respondida imaginando que esse painel possa fazer uma viagem por todos os países da CPLP sem que os leitores identifiquem a real localização das moradias que já se encontram à venda no espaço urbano onde este for colocado. Se conseguirem fazê-lo, acredito eu que não seria com base nas informações fornecidas por este painel, mas através de outros meios. Pode ser por exemplo porque as moradias encontram-se num lugar que a pessoas já possam ter visitado ou que alguém tenha indicado. Mas, consideremos que haverá sempre algumas dúvidas pelo facto de se afirmar que as moradias estão isoladas e estão num espaço urbano. 

Quanto à segundo pergunta, a cidade de Maputo cresce diariamente ao ponto ser um pouco difícil dizer de onde é que ela começa e onde é que ela termina, em primeiro lugar. E, em segundo, a cidade apresenta os seus pontos cardinais em que se encontram vários bairros e seria necessário, pelo menos, dizer em que bairro se encontram as moradias. Assim saberíamos, provavelmente, se é possível chegar ao referido local dentro do tempo estabelecido no painel, sem nos esquecermos dos elementos anteriormente referidos (engarrafamentos, estradas esburacadas e acrescentamos a disposição do condutor se a viagem for de carro ou a disposição do indivíduo se for a pé).

No que toca ao isolamento das moradias, consideremos em primeiro lugar que estas estejam isoladas em relação às outras moradias. Interessante seria fazer um exercício de identificação de algum espaço físico na cidade de Maputo, que não tenha moradias. Essa tentativa de explicação pode tornar-se discutível se alguém nos apresentar outras formas de isolamento para objectos físicos como é o caso de moradias num espaço considerado urbano.
 
Em relação à última pergunta, a falta de endereços e contactos (Avenida, Rua, telefone, fax, e-mail, facebook, etc.) traz de forma resumida elementos que mostram, de certa forma, a falta de seriedade dessa publicidade. Ficamos sem perceber se os proprietários dessas moradias estão realmente interessados na sua venda. Se estiverem interessados, podemos acreditar que os respectivos clientes já tenham sido seleccionados e neste caso estamos perante um painel de informação sobre a venda de moradias e não uma publicidade.
Terminamos a nossa pequena reflexão com uma expressão que, acreditamos nós, foi traduzida duma expressão da língua shangana ‘‘Swimbene!’’ para a língua portuguesa e ficou ‘‘Outras coisas!’’
Marcos SINATE


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