É comum na
linguagem popular ouvir expressões como ‘‘Eu vivo a dez minutos da minha escola.’’
Algo que parece não fazer sentido se analisarmos a frase do ponto de vista
daqueles que consideram que a frase (mais) correcta seria ‘‘Eu vivo a dez
(metros/quilómetros) da escola.’’ Para estes a distância seria medida em
metros, quilómetros, hectares, etc. que são medidas que exprimem o tamanho de
alguma coisa ou a distância a que alguma coisa ou algum lugar se encontra em
relação a outra coisa ou outro lugar.
Numa sociedade em
que existe um sistema de transportes eficaz e eficiente, uma rede de estradas
em condições adequadas (sem buracos) e sem congestionamento, faria algum
sentido a pessoa exprimir a distância em minutos (para dizer se é longe ou
perto do local de referência). Mas ocorre ainda a possibilidade de expressar a
distância com base no tempo especificando que meio de transporte a pessoa vai
usar para chegar ao local ou ainda os momentos do dia em que é possível
percorrer a distância referida no tempo referido. Caso contrário, medir a
distância com base no tempo seria algo um pouco enganoso como tem sido o caso em
algumas publicidades. Há publicidades enganosas! (Provocando as agências de
publicidade, não? Kikikikikikiki)
Na Avenida 25 de
Setembro, na cidade de Maputo (Moçambique) encontra-se neste momento um painel
publicitário com a seguinte informação ‘‘Já à venda! Moradias isoladas […]
Moradias T3 e T4 a 15 minutos da cidade.” Essa publicidade é hiper enganosa, não?
Quem disser que não, terá as suas razões e considero o mesmo para quem disser
que sim? Mas é interessante perceber que nos aparece neste painel algo muito
curioso e que suscita uma pequena conversa! Várias questões podem ser colocadas
a partir desta informação. Vamos a seguir colocar algumas que tentaremos, em
seguida, responder sob a forma duma análise não exaustiva.
A que cidade se
refere nessa publicidade? Supondo que as referidas moradias se encontram na
cidade de Maputo, questionamos em que ponto (bairro) da cidade podemos
encontrar este local? Se as moradias estão isoladas, elas estão nesta situação em
relação a quê? Caso alguém queira obter alguma informação sobre as referidas
moradias onde é que a pode obter e de que maneira? Outras perguntas podem ser
colocadas e analisadas por quem se interessar pela compreensão dos discursos
que ‘‘sobrevoam e pairam’’ na nossa cidade.
A primeira pergunta
pode ser respondida imaginando que esse painel possa fazer uma viagem por todos
os países da CPLP sem que os leitores identifiquem a real localização das
moradias que já se encontram à venda no espaço urbano onde este for colocado.
Se conseguirem fazê-lo, acredito eu que não seria com base nas informações
fornecidas por este painel, mas através de outros meios. Pode ser por exemplo
porque as moradias encontram-se num lugar que a pessoas já possam ter visitado
ou que alguém tenha indicado. Mas, consideremos que haverá sempre algumas
dúvidas pelo facto de se afirmar que as moradias estão isoladas e estão num
espaço urbano.
Quanto à segundo
pergunta, a cidade de Maputo cresce diariamente ao ponto ser um pouco difícil dizer
de onde é que ela começa e onde é que ela termina, em primeiro lugar. E, em segundo,
a cidade apresenta os seus pontos cardinais em que se encontram vários bairros
e seria necessário, pelo menos, dizer em que bairro se encontram as moradias.
Assim saberíamos, provavelmente, se é possível chegar ao referido local dentro do
tempo estabelecido no painel, sem nos esquecermos dos elementos anteriormente
referidos (engarrafamentos, estradas esburacadas e acrescentamos a disposição
do condutor se a viagem for de carro ou a disposição do indivíduo se for a pé).
No que toca ao
isolamento das moradias, consideremos em primeiro lugar que estas estejam
isoladas em relação às outras moradias. Interessante seria fazer um exercício de
identificação de algum espaço físico na cidade de Maputo, que não tenha
moradias. Essa tentativa de explicação pode tornar-se discutível se alguém nos
apresentar outras formas de isolamento para objectos físicos como é o caso de moradias
num espaço considerado urbano.
Em relação à última
pergunta, a falta de endereços e contactos (Avenida, Rua, telefone, fax,
e-mail, facebook, etc.) traz de forma resumida elementos que mostram, de certa
forma, a falta de seriedade dessa publicidade. Ficamos sem perceber se os
proprietários dessas moradias estão realmente interessados na sua venda. Se
estiverem interessados, podemos acreditar que os respectivos clientes já tenham
sido seleccionados e neste caso estamos perante um painel de informação sobre a
venda de moradias e não uma publicidade.
Terminamos a nossa pequena
reflexão com uma expressão que, acreditamos nós, foi traduzida duma expressão
da língua shangana ‘‘Swimbene!’’ para a língua portuguesa e ficou ‘‘Outras
coisas!’’
Marcos SINATE
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