sexta-feira, 17 de abril de 2015

Reinventar Mossambiki



Foi lançada ontem no Centro Cultural  Brasil Moçambique (CCBM) a obra de poesia intitulada ‘‘Reinventar Moçambique’’ cujo autor é Anísio Buanaissa, artisticamente Bwana Yesu. Trata-se duma obra que segundo o seu escritor procura mudar a visão que os moçambicanos têm em relação a sua vida sociopolítica, cultural e económica e desenvolver um espírito de cidadania e sobretudo da moçambicanidade, com vista a valorização da diversidade sociocultural de Moçambique para o alcance da unidade nacional.
Tive a ocasião de participar desse evento e adquiri o livro. Decidi participar do referido evento apenas por ter ouvido o título da obra na rádio (RM – Emissão Nacional), aquando duma entrevista com o escritor Bwana Yesu. Questionei-me sobre o significado de ‘‘Reinventar Mossambiki’’ (Moçambique). Afinal de contas, Moçambique foi inventado? Para que este país seja reinventado significa que ele é resultado duma invenção. Como terá sido inventado? Quem será o responsável pela sua reinvenção? De que maneira foi, é e será (re)inventado? Só lendo a obra para responder a essas perguntas! (É um convite para os que não têm fobia do livro).
Eu tentei responder a essas perguntas mesmo antes da leitura da obra. Sentei-me diante dum ecrã de computador e comecei a escrever as minhas primeiras ideias para responder às perguntas que eu mesmo me coloquei. E comecei da seguinte maneira:
Sim, Moçambique foi inventado. O nome Moçambique foi inventado. Mas, como? Há várias ideias segundo as quais o nome provém duma personagem de origem árabe de nome Mussa Bin Bique ou Mussa Al Mbique mas não encontrei detalhes sobre a personagem referida. Contudo, é assim que se acredita ter inventado o nome Moçambique, que se referia, no passado, ao actual espaço geográfico denominado Ilha de Moçambique. É esse nome que em seguida foi reinventado para se referir a um espaço geográfico maior que é o actualmente denominado Moçambique, que foi reinventado ainda pelo traçado das suas fronteiras geográficas como um país.
Moçambique foi geograficamente inventado pelo traçado dos seus limites geográficos. Esse facto pode ser compreendido ao verificar que os referidos limites (fronteiras) são físicos e/ou políticos mas não são necessariamente socioculturais. Existem por exemplo pessoas que residem nas zonas fronteiriças e que partilham usos e costumes semelhantes ou iguais como a língua, as danças, a gastronomia, etc. Lembro-me de ter feito viagens para os distritos de Matutuíne e Catuane e ter constatado que os seus habitantes tendiam a identificar-se em termos de línguas de vestimentas com os sul africanos. Acredito que isso ocorra também em outras regiões fronteiriças. Então, as fronteiras geográficas de Moçambique foram inventadas e podem ser reinventadas.
A (re)invenção sociocultural, económica e política de Moçambique é efectuada pelos não moçambicanos residentes ou não do país e pelos próprios moçambicanos. Os primeiros inventam um Moçambique que é caracterizado pelos três C’s (crises, catástrofes e calamidades) que caracterizam quase todos os países de África. É com base nessas características que justificam a sua intervenção no país para ajudá-lo a atingir o desenvolvimento através de investimentos de vária ordem e em diversas áreas económicas e provavelmente socioculturais também. Os segundos por sua vez inventam um Moçambique caracterizado pela marrabenta, pela timbila, pelo mapiko, pela matapa, pelas belas praias, etc. e até fala-se de um Moçambique caracterizado pelo 3/100. Não posso e nem devo excluir a interessante expressão, que é muito corrente nos discursos de alguns nacionais porém carregada de muitos significados: ‘‘Moçambicano é assim!’’. A partir dessa expressão, creio eu que cada pessoa poderá inventar hoje e reinventar amanhã o Moçambique que quiser.
Bwana Yesu já reinventou Moçambique assim ‘‘Mossambiki’’. Bwana Yesu já reinventou a cultura moçambicana colocando mais uma obra nas suas bibliotecas. Bwana Yesu já reinventou o grupo dos escritores moçambicanos de poesia. Bwana Yesu já reinventou a minha estante de casa colocando nela mais um livro de poesia.

Marcos SINATE

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