Foi lançada
ontem no Centro Cultural Brasil Moçambique (CCBM) a obra de poesia intitulada ‘‘Reinventar
Moçambique’’ cujo autor é Anísio Buanaissa, artisticamente Bwana Yesu. Trata-se
duma obra que segundo o seu escritor procura mudar a visão que os moçambicanos têm
em relação a sua vida sociopolítica, cultural e económica e desenvolver um
espírito de cidadania e sobretudo da moçambicanidade, com vista a valorização
da diversidade sociocultural de Moçambique para o alcance da unidade nacional.
Tive a ocasião
de participar desse evento e adquiri o livro. Decidi participar do referido
evento apenas por ter ouvido o título da obra na rádio (RM – Emissão Nacional),
aquando duma entrevista com o escritor Bwana Yesu. Questionei-me sobre o
significado de ‘‘Reinventar Mossambiki’’ (Moçambique). Afinal de contas,
Moçambique foi inventado? Para que este país seja reinventado significa que ele
é resultado duma invenção. Como terá sido inventado? Quem será o responsável
pela sua reinvenção? De que maneira foi, é e será (re)inventado? Só lendo a
obra para responder a essas perguntas! (É um convite para os que não têm fobia
do livro).
Eu tentei
responder a essas perguntas mesmo antes da leitura da obra. Sentei-me diante
dum ecrã de computador e comecei a escrever as minhas primeiras ideias para
responder às perguntas que eu mesmo me coloquei. E comecei da seguinte maneira:
Sim, Moçambique
foi inventado. O nome Moçambique foi inventado. Mas, como? Há várias ideias
segundo as quais o nome provém duma personagem de origem árabe de nome Mussa
Bin Bique ou Mussa Al Mbique mas não encontrei detalhes sobre a personagem
referida. Contudo, é assim que se acredita ter inventado o nome Moçambique, que
se referia, no passado, ao actual espaço geográfico denominado Ilha de
Moçambique. É esse nome que em seguida foi reinventado para se referir a um
espaço geográfico maior que é o actualmente denominado Moçambique, que foi
reinventado ainda pelo traçado das suas fronteiras geográficas como um país.
Moçambique foi geograficamente
inventado pelo traçado dos seus limites geográficos. Esse facto pode ser compreendido
ao verificar que os referidos limites (fronteiras) são físicos e/ou políticos
mas não são necessariamente socioculturais. Existem por exemplo pessoas que
residem nas zonas fronteiriças e que partilham usos e costumes semelhantes ou
iguais como a língua, as danças, a gastronomia, etc. Lembro-me de ter feito
viagens para os distritos de Matutuíne e Catuane e ter constatado que os seus
habitantes tendiam a identificar-se em termos de línguas de vestimentas com os
sul africanos. Acredito que isso ocorra também em outras regiões fronteiriças.
Então, as fronteiras geográficas de Moçambique foram inventadas e podem ser
reinventadas.
A (re)invenção
sociocultural, económica e política de Moçambique é efectuada pelos não
moçambicanos residentes ou não do país e pelos próprios moçambicanos. Os
primeiros inventam um Moçambique que é caracterizado pelos três C’s (crises,
catástrofes e calamidades) que caracterizam quase todos os países de África. É com
base nessas características que justificam a sua intervenção no país para
ajudá-lo a atingir o desenvolvimento através de investimentos de vária ordem e
em diversas áreas económicas e provavelmente socioculturais também. Os segundos
por sua vez inventam um Moçambique caracterizado pela marrabenta, pela timbila,
pelo mapiko, pela matapa, pelas belas praias, etc. e até fala-se de um Moçambique
caracterizado pelo 3/100. Não posso e nem devo excluir a interessante expressão,
que é muito corrente nos discursos de alguns nacionais porém carregada de
muitos significados: ‘‘Moçambicano é assim!’’. A partir dessa expressão, creio
eu que cada pessoa poderá inventar hoje e reinventar amanhã o Moçambique que
quiser.
Bwana Yesu já
reinventou Moçambique assim ‘‘Mossambiki’’. Bwana Yesu já reinventou a cultura
moçambicana colocando mais uma obra nas suas bibliotecas. Bwana Yesu já
reinventou o grupo dos escritores moçambicanos de poesia. Bwana Yesu já
reinventou a minha estante de casa colocando nela mais um livro de poesia.
Marcos SINATE
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