
Normalmente, existia
uma cerimónia de abertura da época do ukanyi em certos distritos das províncias
de Maputo, Gaza e um pouco em Inhambane. Essa cerimónia contava com a presença
de régulos e/ou outros representantes da autoridade tradicional. A bebida era
produzida, em seguida toda a vizinhança era solicitada a beber a precioso ukanyi,
bebida que só aparece nos meses de Janeiro e Fevereiro de cada ano. Porém, com
certa raridade esta aparece também no mês de Março.
Afirma-se que o ukanyi
é uma bebida cuja venda é socioculturalmente proibida. Mas, parece-me que este
facto verifica-se de forma cada vez mais rara nos nossos dias. Há elementos que
me levam a crer que após a cerimónia de abertura da época do ukanyi, cada
pessoa carrega o seu bidon e faz dele o que quiser. Alguns bidons chegam ao
meio urbano de Maputo onde a bebida é consumida em troca de valores monetários.
É comum nessa época encontrar “mamanas” com bidons de 20 a 25 litros a vender
ukanyi na Baixa da cidade de Maputo e na cidade da Matola.
Servido em garrafas
plásticas de meio litro, um litro e meio a dois litros, o ukanyi é vendido a 20, 50 e 75Mt cada garrafa. Há
cidadãos que compram essa bebida e consomem-na no local e outros que a levam para
casa. Os que a levam para casa, consideram que esta é melhor quando servida
gelada e ainda que precisam de ter um pouco de whisky ao lado para “txantxular”
(desempanturrar).
Mostra-se aqui a
ocorrência duma nova realidade. O ukanyi é comercializado nas zonas onde é
produzido. Há indivíduos que vão às zonas de produção “gwevar” (comprar a grosso)
para revender no meio urbano. Nesse meio, há outros tipos de consumidor do
mesmo. Ainda não vimos, mas acreditamos que dentro de alguns anos (se é que
ainda não acontece), teremos a matéria-prima a ser transportada e processada no
meio urbano. Assim, a abertura da época do ukanyi será feita sem o régulo ou outros
representantes da autoridade tradicional, pois esses muito raramente aparecem a
exercer o seu poder no meio urbano.

Marcos SINATE